quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Arthur Xexéo escreve sobre o livro em O Globo

Pilantragem, o gênero que a MPB esqueceu
Por Arthur Xexéo


A capa do livro não me entusiasmou: uma foto de Wilson Simonal, usando a bandana tradicional que caracterizava seu figurino, sobre o título “Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga”. Minha interpretação foi rápida: lá vem mais uma obra tentando recuperar a importãncia de Simonal na música brasileira. Resisti à implicância e abri o livro. Me dei bem. O trabalho do historiador Gustavo Alonso, que a editora Record está mandando este mês para as livrarias, pretende mesmo entender o ostracismo a que Simonal foi relegado e recuperar sua importância, mas de uma maneira original, talvez da maneira mais original entre as que foram tentadas até agora.



O livro empreende uma viagem aos anos 60, período em que a música brasileira fazia parte da luta política travada no país. Para começar, Alonso recupera um gênero que, até gora, nem mesmo era considerado um gênero: a Pilantragem. “O conceito MPB foi forjado por meio da luta contra a ditadura, ecoando e catalisando a construção de uma memória de resistência que a própria sociedade vinha criando para si mesma”, escreve o autor, para explicar as canções de Bethãnias e Vandrés, consideradas a única coisa importante que era composta na época. “A História da MPB sempre foi privilegiada por pesquisadores, escritores, acadêmicos e jornalistas, muito mais do que qualquer outro gênero musical. É comum que artistas não identificados a este gênero estético-político sejam associados à baixa qualidade estética e à ‘alienação’ política.”

Então é isso. Muito antes de o nome de Simonal ser associado à imagem de dedo-duro a partir de a seu polêmico envolvimento na detenção ilegal de seu contador, como está mais do que explicado no documentário “Simonal — Ninguém sabe o duro que dei”, de Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal, o cantor já era associado à baixa qualidade, um alienado, um adesista e, portanto, não merecia fazer parte da História da nossa música.
“Certos artistas são silenciados pela memória hegemônica em nome de um conceito estético e político, apagando-se a vivência afetiva de milhões de brasileiros”, escreve Alonso, me fazendo lembrar que, lá em casa, a vitrola não parava de tocar Simonal, a Turma da Pilantragem, Regininha, Antônio Adolfo e A Brazuca, Turma da Pesada e uma certa fase de Marcos e Paulo Sérgio Valle. Por que nunca se fala deles quando se escreve sobre a música dos anos 60? É o que o livro de Gustavo Alonso explica.
Para ser mais polêmico, o autor é definitivo: a Pilantragem, um projeto estético da década de 60, inventado por Simonal, Carlos Imperial e Nonato Buzar, “buscava, como o Tropicalismo, fundir o que vinha ‘de fora’ com as tradições de ‘de dentro’. (...) Assim como a bossa nova teve em Tom Jobim o ‘maestro soberano’, a Pilantragem também teve seu cérebro musical: Cesar Camargo Mariano. Muito antes de ser conhecido e reconhecido pelos arranjos para Elis Regina na década de 70, ele já era um dos grandes responsáveis pelo movimento da Pilantragem, criando levadas inovadoras e sacudindo todo mundo com suingues dançantes através do instinto e da sensibilidade de Simonal.” Aí já há combustível suficiente para uma explosão e tanto nas entranhas da MPB, mas o livro é muito, muito mais inflamável.

A trajetória De Simonal é muitas vezes abandonada para o autor se debruçar sobre o tempo em que a música brasileira se dividia entre resistentes e adesistas. Um tempo de passeatas contra guitarras elétricas, do papel do jornal “O Pasquim” em determinar quem merecia ser ouvido (os resistentes) e quem não (os adesistas), da intolerância que quase acabou com a carreira de Ivan Lins, do preconceito que acabou com a carreira de Erlon Chaves... O livro traz ainda uma tese nova que promete reacender o velho debate: a transposição da imagem de Chico Buarque de adesista à resistente.
“A imagem do artista hoje é a do resistente ideal, louvado pela postura combativa e aguerrida na luta cultural contra o regime”, escreve Alonso. “No início da carreira, muitos tiveram dificuldades em associá-lo à luta contra a ditadura, pois ele quase sempre preferia compor temas lírico-amorosos e ‘alienados’.’’ O autor lembra que “Carolina”, de Chico, fez parte do repertório de Agnaldo Rayol no disco “As minhas preferidas”, uma seleção de canções “preferidas” do presidente Costa e Silva. E que a imagem de Chico só se transformou após o que ele chama de “breve” exílio do artista na Itália. Baseado em tese ainda não publicada do historiador italiano Luca Bacchini, o ivro é contundente: “Sabendo da sede da juventude italiana pelos mitos da América Latina, especialmente Che Guevara, a RCA (gravadora italiana) criou uma campanha publicitária que colocava Chico Buarque vítima da ditadura. Passou-se a vender a ideia de que ele era um exilado político, cantor de protesto expulso do país. Paradoxalmente, foi na Itália que Chico tornou-se o resistente ideal.

É lenha na fogueira da MPB. E bem que a MPB está precisando.

Fonte: COLUNA DO SEGUNDO CADERNO, O Globo (03/08/2011): Link aqui

O que a imprensa anda falando sobre o livro:


"O trabalho de Gustavo Alonso pretende entender o ostracismo a que Simonal foi relegado e recuperar sua importância, mas de uma maneira original, talvez da maneira mais original entre as que foram tentadas até agora. "Simonal: quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga" é um livro inflamável. Há combustível suficiente para uma explosão e tanto nas entranhas da MPB. É lenha na fogueira da MPB. E bem que a MPB está precisando."

Arthur Xexéo, O Globo, 03/08/2011


"A reabilitação de Simonal não conseguiu dar conta de todas as ambiguidades do personagem e de sua problemática existência no campo da MPB dos anos 1960 e 1970. Este livro vai além dos limites de uma biografia tradicional: explora como a sociedade e, especialmente, o meio musical atravessaram a corda bamba do protesto e da adesão ao regime militar. A obra interessa não só aos apaixonados por nossa cultura, mas também aos que se deixam atrair pelo enigma de como as sociedades eternizam ou matam seus ídolos".

Paulo Cesar de Araújo, autor dos livros "Eu não sou cachorro, não" e "Roberto Carlos em detalhes"


"Eis o ovo da serpente cutucado pelo historiador Gustavo Alonso. Esmiuçando inúmeros exemplos, Gustavo dá margem à compreensão de que, numa sociedade muito mais complexa que o bangue-bangue hollywoodiano maniqueista que divide o mundo em 'bons' e 'maus', quem lutou contra a ditadura pode ter igualmente colaborado com ela, e vice-versa. Quem sofre espeicalmente nas mãos do autor é Chico Buarque, herói máximo das esquerdas dos anos 1970 e figura que, afinal, acumulou prestígio, fama e fortuna à custa da luta simbólica diuturna contra os mandos e desmandos dos generais instalados em Brasilía. (...) Você já havia ouvido falar em algum outro lugar sobre esse perturbador redesenho histórico proposto em livro por Gustavo Alonso?"

Pedro Alexandre Sanches, Rev. Caros Amigos, jun. 2011


"Este livro nasceu da dissertação de mestrado defendida pelo autor, o historiador Gustavo Alves Alonso Ferreira, na Universidade Federal Fluminense, em 2007. E por isso se mostra uma obra bastante completa quanto à pesquisa e apuração dos fatos que permeiam a vida e obra do redescoberto Wilson Simonal".

Revista Rolling Stone, julho de 2011


"O grande problema da análise da MPB no período – que acomete a Internet, nas disputas ideológicas – é se tomar a parte pelo todo. A parte era um mundo pequeno, composto de críticos, músicos e um público restrito. (...)
Como constata Alonso, a maioria da população apoiava a ditadura."

Luis Nassif

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Lançamento do livro!


Lançamento de meu livro "Simonal: Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga", dia 24/08, às 19hs, na livraria Blooks, do Unibanco Arteplex, Praia de Botafogo Botafogo 316, Rio de Janeiro.

link do livro no site da editora Record, aqui.